
Hoje acordei azeda. Não estava assim, mas fiquei. Desculpe se sou careta demais, se estou retrógrada ou se ainda tenho na veia os ensinamentos clássicos que me foram passados. Mas o fato é que me irrito, e muito, com determinadas posturas (que deveriam ser) profissionais.
Aprendí e continuo repassando as minhas alunas, referências do tipo:
• "a dança já é sensual por sí só, a bailarina não precisa se expôr em trajes transparentes ou com fendas muito abertas ..."
• "você já está cheia de brilhos, maquiagem, glamour... evite caras e bocas"
• "o preconceito que ronda nossa arte deve ser combatido com atenção, perseverança e ações positivas"
• "não alimente o conceito sexual da dança com posturas permissivas"
• "onde se ganha o pão não se come a carne"
• "não olhe em olhos masculinos durante sua apresentação, você não está alí para seduzir macho algum"
• "transmita alegria, emoção... e não sexualidade"
... e assim eu poderia seguir com mais de 21 anos de frases aplicadas em minhas salas de aula, tentando eternamente valorizar o contexto desta tão amada e respeitada (por mim) arte.
Fico um tanto perdida, desorientada mesmo, ao ver "novas Divas" da dança, sendo adoradas pela nova geração, com seus corpos perfeitos e leituras musicais questionáveis; com seus figurinos riquíssimos que mostram a calcinha; e assim por diante...
Será que tô ficando velha da cabeça? Retrógrada?
Mas ao se deparar com a foto abaixo, o que vem na sua mente?
Bailarina Angeles, da Argentina, em exposição no seu facebook
Estou eu lá, no camarim, pronta pra entrar em cena ao ser chamada. Por baixo do meu traje, o famoso "calçolão" cor da pele, que nao marca nem a roupa nem o bumbum... enquanto minha colega, a mesma da foto acima, trocava a sua por um fio dental vermelho, justificando que esta aparecia melhor na fenda central do seu traje de lycra de oncinha coladíssimo, quando ela levantasse a perna. Ficaria mais sexy... E eu fico calada, em choque.
Ah... bons tempos... Lembro de minhas musas inspiradoras, todas cobertas por segundas peles, as vezes com aqueles cabelões de vassoura piaçava típica das egípcias (desculpa a honestidade!), saiões rodados que tornam positivos os culotes indesejáveis, franjas e brilhos que dançam junto aos tremidos de quadris...
Uma de minhas Divas favoritas, Nagoua FouadDescoberta, mas sutilmente coberta...Não estou aqui para julgar ninguém, por favor não me má interpretem! Cada um é dono de seu corpo e principalmete de sua consciência. Tem pai e mãe que babam ao ver a filha capa da revista Playboy. Meu pai me matava. Minha mãe morria! Tem rainha da bateria em carnaval, que preza pela elegância (Luiza Brunnet, Adriane Galisteu,...) enquanto outras literalmente aproveitam a aproximação das câmeras para colocar o "fiofó" na mira de milhões de espectadores. Isto é livre-arbítrio.
Livre arbítrio sim, mas tenho opinião própria.
Não acho que a imagem da bailarina de dança do ventre, tenha que ser a da "gostoza do pedaço". Aliás, sempre achei que isso na verdade, não ajuda em nada, e sim, atrapalha! Se você construir a sua carreira sob este aspecto e imagem, como será quando sua idade avançar e seu corpinho já não estivar assim tão certinho? Digo por experiência própria, aos 40 anos, passando por uma terrível crise de hipotiroidismo e com a agenda (inshalah!) lotada.
Serão estes os novos tempo?
Será realmente esta a imagem que esta nova geração de bailarinas busca para a sua auto-promoção?
É...
Se a resposta é SIM, acho que minha aposentadoria da dança virá antes do programado...
;(